Atlas da questão agrária Norte Mineira

 

 

 

 

 

 

INFORMAÇÕES:

Título: Atlas da questão agrária Norte Mineira
Autor: Gustavo Henrique Cepolini Ferreira (org.)
Editora: Entremares
Idioma: Português
Encadernação: Brochura
Dimensão: 14 x 21 cm
Edição:
Ano de Lançamento: Dezembro de 2020
Número de páginas: 184
Preço: R$ 50,00

SUMÁRIO:

AOS INDÍGENAS, QUILOMBOLAS E CAMPONESES DO NORTE MINEIRO, À GUISA DE PREFÁCIO

O Atlas da Questão Agrária Norte Mineira organizado por Gustavo Henrique Cepolini Ferreira tem por objetivo “… ir além da coleção de mapas ou cartas geográficas em livros … ou seja, da acepção literal comumente atribuída ao Atlas.” Portanto, “… expressa a seu modo a complexidade e as contradições vivenciadas no país, e, especialmente no campo brasileiro e norte mineiro, ressaltando o compromisso da universidade pública ao construir conhecimento, lutas e embates que possam transformar a realidade brasileira frente as proposições daqueles que seguem defendendo a “passagem da boiada” sobre os direitos históricos dos indígenas, quilombolas e camponeses no Brasil.” Logo, “… trata-se de uma marca histórica, ou seja, uma perversa e atual “Geografia das lutas no campo”, marcada por conflitos e sangue …”. E, muito mais “… constitui-se num – apoio – para a compreensão da realidade no/do campo e dos povos e populações rurais nas Gerais a partir de muitas mãos, corpos e mentes que resistem como o Cerrado – “Réplica vegetal da teimosias do Povo sertanejo, os paus deste cerrado a sol batido, duro sobreviventes” como cunhou sabiamente Dom Pedro Casaldáliga …”.

Tudo isso, é muito mais do que os autores dos Atlas pretendiam expor. É um pouco da verdade verdadeira que os indígenas, quilombolas e camponeses, no Norte Mineiro, queriam que um Altas apresentasse. É tudo aquilo que um dia o “… sonho que se sonha junto …” de Raul Seixas, de repente, aparecesse como realidade aos olhos de todos. É assim, que o trabalho e a Geografia transparecem no Atlas. Por isso mesmo, parabéns aos seus autores, todos.

Mas, é necessário abordar o Atlas, para que ele seja, de fato e de direito, dos indígenas, quilombolas e camponeses, do Norte Mineiro. Trata-se de apresentá-lo aos leitores. O Atlas possui uma “Apresentação” onde o organizador Gustavo, afirma-se reforçando seus objetivos e do exemplar. Depois, passa-se ao “Preâmbulo – Uma contribuição para a Geografia Agrária do Norte de Minas Gerais”, também, de autoria do Gustavo, onde ele apresenta aos leitores as discussões sobre a territorialização do campesinato e do agronegócio no Norte mineiro como antagônicas e contraditórias, onde as lutas pelo território e pela terra aparecem a partir de diferentes conflitos e disputas. E, demarca sua posição defendendo a autonomia indígenas, quilombola e camponesa no interior da violência e de suas múltiplas facetas.

Depois vem o propriamente, “Atlas da Questão Agrária Norte Mineira”. Nele, Gustavo apresenta em mais de 78 mapas em 41 páginas seu arsenal teórico e de método. Destaco, entre os muitos e belos mapas que compõem o Atlas, aqueles que abordam os conflitos de terra entre 2000 e 2019 nos municípios; a presença do trabalho escravo no mesmo período; os conflitos por água; e, o projeto “Um Milhão de Cisternas” na região. Traz também, com muita clareza, os mapas dos assentamentos rurais, das Terras Indígenas Xakriabá e Tuxá, bem como as áreas quilombolas. E, termina o Atlas, propriamente dito, com um mapa síntese sobre as territorialidades do Norte mineiro.

A seguir, apresenta a parte do Altas intitulado “Relatos e registros de pesquisas – ações e lutas nos Gerais” um conjunto brilhante de textos feitos pela equipe toda que o produziu. Nesta parte do Atlas em que os capítulos são numerados de 1 a 14, há um texto de Sandra Helena Gonçalves Costa cujo título é “Questão agrária e luta por território no Norte de Minas Gerais: a grilagem e o conflito no Vale das Cancelas”; um texto de Alexandre Gonçalves, Leticia Aparecida Rocha e Paulo Roberto Faccion intitulado “Conflito no Norte de Minas”; outro texto de Felipe Leonardo Soares Ribeiro cujo título é “Precisamos construir os Gerais, porque as Minas estão nos tomando … uma análise da mineração no Norte de Minas”; um texto de Alexandre Soares e Oswaldo Samuel Costa Santos intitulado “MST construindo a Reforma Agrária Popular: Resistência Camponesa na Fazenda Arapuim”; outro texto de David Batista Batella cujo título é “Breve histórico da Liga dos Camponeses Pobres no Norte de Minas”; um texto de Anderson Bertholi, Caroline Alves da Silva e Cibele Bertholi “O Trabalho Coletivo no Brejo dos Crioulo”; outro texto de Gustavo Henrique Cepolini Ferreira e Josiane Barcelos de Souza cujo título é “Da Ocupação ao Assentamento Viveiros em Pirapora”; um texto de Aline Fernanda Cardoso intitulado “Uso e Intoxicação por Agrotóxicos em Trabalhadores Agrícolas do Projeto Jaíba”; o texto de Deyvison Lopes Siqueira cujo título é “Agricultura Urbana em Montes Claros: uma Transição Agroecológica no Semiárido”; um texto de Carlos Alberto Dayrell intitulado “De Nativos, de Caboclos e de suas Antropologias”; o texto coletivo do Núcleo Interdisciplinar de Investigação Socioambiental intitulado “Povos, Comunidades Tradicionais e seus Territórios no Norte de Minas Gerais”; um texto de Matheus Vinicius Ferreira cujo título é “Nova Cartografia Social no Sertão Norte Mineiro”; o texto de Heiberle Hirsgberg Horácio, Cássio Alexandre da Silva e Fabiano José Alves de Souza intitulado “Xakriabá, Fronteiras, Lutas e Resistência no Norte de Minas Gerais – Brasil”; e, um texto de Magda Martins Macêdo, Erika Fernanda Pereira de Souza e Maria Auxiliadora Amaral S. Gomes cujo título é “Educação do Campo em pauta no Norte de Minas Gerais”. O trabalho proposto contém, também, como Anexo A, o texto Nota das Entidades da Sociedade Civil “Mineração aqui não! Fora SAM! Em Defesa dos Povos e das Águas de Minas e Bahia”; e, como Anexo B o texto da Carta do II Mutirão da Articulação Rosalino de Povos e Comunidades Tradicionais no território Xakriabá, à sociedade brasileira e internacional.

Este conjunto de textos e mapas formam o “Atlas da Questão Agrária Norte Mineira” que está disponível para indígenas, quilombolas e camponeses do país, e, quiçá, do mundo. Que ele atinja seus objetivos, e, porque “assim, o Atlas se constitui como um instrumento de registro, denúncia e ação, uma vez que tabela esconde o rosto, oculta os olhos, e não mostra a história …” como muito bem afirmou Dom Tomás Balduíno. “… Por isso, assumimos o papel de escancarar os dados estatísticos por meio de uma análise crítica e, por vezes, propositiva ao reconhecer os conflitos a partir da territorialização do campesinato e do agronegócio no Norte de Minas Gerais.”

No final do inverno de 2020, nestes dias cinzentos de transmissão da Covid-19.

Ariovaldo Umbelino de Oliveira

Professor Titular – FFLCH – USP