Greve de Inquilinos

 

 

 

 

 

 

INFORMAÇÕES:

Título: Greve de Inquilinos
Autor: Neno Vasco
Editora: Entremares & Ambiente Arejado Publicações
Idioma: Português
Encadernação: Brochura
Dimensão: 14 x 21 cm
Edição:
Ano de Lançamento: Junho de 2018
Número de páginas: 112
Preço: R$ 25,00

SUMÁRIO:

SOBRE A PEÇA:

No contexto da Primeira República, o movimento operário brasileiro, com forte atuação da militância anarquista, tinha expressiva influência do sindicalismo revolucionário da CGT francesa. Nesse campo de atuação, Neno Vasco era ativo signatário, realizava trabalhos de organização, mobilização e resistência. Inclusive era um ativo militante no contexto do primeiro Congresso Operário Brasileiro, em abril de 1906, ocorrido no Rio de Janeiro.

O congresso foi o espaço aglutinador da militância sindical, com forte presença anarquista. Na ocasião, foi tirada a resolução de que:

“…o Congresso decidiu que uma confederação e um jornal sindical deveriam ser criados para, respectivamente, prestarem auxílio às federações dando voz ao coletivo de associações. Outra medida proposta foi a propaganda por folhetos, manifestos, conferências, representações teatrais etc;” (SAMIS, 136)

A peça “Greve de Inquilinos”, uma farsa em um ato escrita em 1907 é parte integrante desse contexto. As representações teatrais realizadas pelo movimento operário eram denominadas de “teatro social”, meio de divulgação das lutas operárias para todas e todos. Com isso, buscava-se o combate das opressões dos governos e dos patrões e a promoção de métodos formativos, educacionais em distintos níveis, através da criação de espaços de sociabilidade e lazer da classe operária. Ações diretas que formavam laços de solidariedade por meio da arrecadação de recursos financeiros para trabalhadoras e trabalhadores que sofriam com perseguições, acidentes de trabalho, desemprego ou que haviam sido deportados. (RODRIGUES, 107)

A dramaturgia de Neno Vasco foi encenada por diferentes grupos. Suas peças relacionavam-se com as questões sociais muito caras à classe operária urbana, em processo de construção no período que convencionou-se chamar de Primeira República.

Fontes bibliográficas identificam o problema da moradia urbana. O periódico A Terra Livre, no mesmo contexto do lançamento da “Greve de Inquilinos”, apresentou reportagens sobre os valores dos alugueis na cidade do Rio de Janeiro.

Em outras referências fora da região sudeste do país, como no Sul, é possível encontrar indícios da questão da moradia. Segundo Costa, ao analisar a construção da resistência urbana na Joinville/SC da Primeira República:

“O aluguel de casas em Joinville era o terror das classes pobres, se constituindo as habitações num dos principais problemas da cidade. Muito poucas casas boas eram alugadas e isto a preços iguais aos das grandes capitais brasileiras. A maioria das casas de aluguel eram muito desconfortáveis e sem nenhuma comodidade.” (GUEDES, 83)

A autora indica que a reivindicação de moradias populares era parte da pauta do movimento operário em processo de formação da cidade da região nordeste de Santa Catarina. No caso citado, a classe operária em Joinville conseguiu uma medida de incentivo à construção de moradia operárias por parte do governo municipal.

Entre os anos 1908 e meados da década de 1920, a peça “Greve de Inquilinos” foi encenada em diferentes cidades brasileiras. Em 1908, o jornal A Luta Operária, de São Paulo, anunciava a realização da Festa Social para o dia 15 de fevereiro, com objetivo da promoção da Liga dos Marceneiros. Em junho de 1912, o número 9 do jornal A Lanterna, a apresentação da farsa em um ato para o dia 13 de julho. O jornal operário A Plebe, em 07 de abril de 1923, anunciava o Grande Festival Teatral em Benefício de A Plebe, organização pelo Centro Libertário Terra Livre, Sapateiros e pelo Grupo de Teatro Social, para o dia 30 de abril, às 20hs, no Salão Celso Garcia, com objetivo de comemorar o Primeiro de Maio. No mesmo ano, na edição 211, de 9 de junho, o jornal A Plebe informava do Festival organizado pela Liga Operária de Construção Civil, com o objetivo de captar fundos financeiros para os trabalhos sociais. Outras fontes bibliográficas indicam a montagem da peça no Rio de Janeiro sobre os cuidados do Grupo Renovação.

Além das esparsas citações em importantes trabalhos realizados por companheiras e companheiros pesquisadores sobre anarquismo, sindicalismo e teatro entre 1889-1930, a obra “Greve de Inquilinos” chegou as nossas mãos por meio da publicação da versão em livro, em 1923, no país de origem de Neno Vasco, como parte do trabalho editorial do jornal A Batalha.

Cento e dez anos depois da publicação da peça “Greve de Inquilinos” e cem anos da importante greve geral de 1917, a atual conjuntura mantém o duro peso de um sistema opressivo contra todas e todos que produzem, negras, negras, jovens, estudantes, LGBTs, indígenas. Neste atual cenário, a dramaturgia que você tem em mãos tem a importância de agitar e propagar a luta por moradia e abrir uma canal de diálogo entre o anarquismo e o teatro.

Referências:

COSTA, Iara Andrade. A cidade da ordem: Joinville (1917-1943). In. GUEDES. Sandra P.L. de Camargo (org) Histórias de (I)migrantes: o cotidiano de uma cidade. Joinville: UniVILLE, 2000.
RODRIGUES, Edgar. O anarquismo na escola, no teatro, na poesia. Editora Rio de Janeiro: Achiamé, 1992.
SAMIS, Alexandre. Pavilhão negro sobre pátria oliva. In. História do movimento operário revolucionário. Vários Autores. São Paulo: Editora Imaginário, 2004.
VARGAS, Maria Thereza (Org). Antologia do teatro anarquista. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2009.