Atlas de conflitos na Amazônia

 

 

 

 

 

 

INFORMAÇÕES:

Título: Atlas de conflitos na Amazônia
Autor: Comissão Pastoral da Terra (org.)
Editora: Entremares & Comissão Pastoral da Terra
Idioma: Português
Encadernação: Brochura
Dimensão: 14 x 21 cm
Edição:
Ano de Lançamento: Novembro de 2017
Número de páginas: 104
Preço: R$ 40,00

SUMÁRIO:

PREFÁCIO:

A Amazônia é marcada historicamente desde o processo de sua ocupação colonial por diferentes formas de violências praticadas tanto contra sua população nativa, como nas rapinas aos seus bens naturais, sempre em favor dos países que a dominaram. Esta realidade segue até os dias atuais à medida que os sucessivos governos seguem as determinações capitalistas da Divisão Internacional do Trabalho, em que o Brasil deva garantir a matéria prima aos países industrializados. Evidentemente que esta postura alimentará a violência em todos os sentidos aos diversos grupos sociais da Amazônia.

A Comissão Pastoral da Terra (CPT), que nasceu em junho de 1975 durante um Encontro de Bispos e Prelados da Amazônia, busca prestar um serviço aos povos do campo e na Amazônia este trabalho tem se intensificado à medida que a CPT busca atuar em todos os estados da Amazônia Legal, com equipes espalhadas por quase todo este território. Nossas dificuldades são gigantescas se considerarmos apenas o fato que a maior disputa pela terra e os grandes números de pessoas violentadas estão na Amazônia.

Observamos nos dias atuais a Amazônia como um espaço em que se realiza um saque modernizado, e em muitos casos eficiente, dos bens naturais para a acumulação das grandes corporações capitalistas, que carregam os recursos naturais em grandes quantidades a preços aviltantes, deixando um prejuízo ecológico gigantesco, além de um rastro de violência contra os seus habitantes. A sociedade amazônica sempre fica à margem das riquezas que este processo gera. Os únicos beneficiados regionalmente são uma reduzidíssima minoria de privilegiados, representantes e defensores das corporações internacionais, e também de uma colonização interna do Brasil, geralmente vinda de outras regiões, que se aliam aos esquemas de corrupção que garantem o sistema de rapina.

Assim, as CPTs da Amazônia têm buscado mecanismos que possam melhorar os trabalhos junto às comunidades acompanhadas por nossas equipes. Foi então que a partir de 2005 iniciamos um processo específico de Articulação das CPTs da Amazônia para melhor trabalhar em rede entre os nove regionais, com troca de informações, troca de experiências, dados, avaliações, análises e ações que contribuam para fortalecimento mútuo e para melhorar nosso diagnóstico e oferecer uma compreensão comum da realidade.

Neste contexto surgiu o “ATLAS DE CONFLITOS NA AMAZÔNIA”, que começou como uma iniciativa interna da Articulação da Comissão Pastoral da Terra na Amazônia, que tem intensificado um mutirão entre todas as equipes amazônicas da CPT. Trata-se da proposta de uma publicação que com metodologia diferente, complementa assim, o trabalho de documentação que todo ano a CPT Nacional realiza recolhendo os dados anuais de Conflitos no Campo do Brasil. Oferecendo um enfoque no mapeamento por municípios dos locais onde existem atualmente conflitos, e tendo como objetivo a melhoria da compreensão dos desafios que enfrentamos nesta imensidão Amazônica.

Em fevereiro de 2016 em Manaus na reunião dos coordenadores dos nove regionais amazônicos da CPT, se destacou a preocupação crescente com o aumento de conflitos e de violência atingindo os povos da Amazônia. Apresentamos um trabalho para tentar visualizar e mapear onde estão os conflitos nos territórios de cada estado, para melhorar nossa atuação nas regiões mais atingidas.

Inicialmente cada regional da Amazônia realizou este trabalho, de forma simples, a partir da base de dados dos registros de violência no campo realizados com informações próprias, ou recolhidas dos camponeses/as e movimentos, ou da mídia no próprio estado, não se limitando aos conflitos acompanhados, mas a todos aqueles dos quais houvesse conhecimento e que estavam vigentes. O trabalho foi apresentado primeiro em cada estado e depois conjuntamente.

O resultado deste levantamento foi muito positivo e atendeu a expectativa de todos os regionais, à medida que permitia um olhar mais qualificado das áreas onde estão acontecendo a maior quantidade de conflitos e a disputa pelos territórios ocupados em toda a Amazônia. Desta forma, passamos para uma segunda fase que foi a de melhorar tecnicamente as informações e permitir através da publicação destes dados, que toda a sociedade pudesse acessar tais informações sobre os diversos conflitos ativos e que são acompanhados ou não pelos agentes da CPT em todos os estados da Amazônia Legal.

O desenvolvimento deste Atlas se deu, portanto, a partir dos dados coletados pelas equipes em seus regionais, que em seguida foram interpretados, analisados e organizados pelo professor e geógrafo Gustavo Cepolini, que com estas informações elaborou os diversos mapas que aqui são apresentados, como forma de dar visibilidade de forma técnica e acadêmica aos conflitos e territórios atualmente em disputa na Amazônia. Para não confundir aqueles que já estão acostumados com as publicações anuais do nosso Caderno de Conflito, realizamos várias reuniões com a equipe do Centro de Documentação Dom Tomás Balduino, para definirmos a metodologia. Enquanto nossos cadernos de Conflitos anuais apresentam os conflitos onde houve ocorrências de violência acontecidos em cada ano de publicação, este Atlas trabalha com metodologia diferente, mapeando todos os conflitos conhecidos, que ainda não estavam resolvidos até finais do ano de 2016.

Os Estados que compõem a Amazônia Legal onde os regionais da CPT registraram os dados de conflitos neste Atlas são por ordem alfabética: Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão (considerando todo o estado), Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Cada regional apresenta os conflitos a partir de uma contextualização elaborada pelos próprios representantes de cada Estado. Para aproximar ainda mais o leitor da realidade que o Atlas apresenta, estamos trazendo como exemplo um caso emblemático por estado.

Esta publicação sem dúvida evidencia cada vez mais a necessidade de registrar, ao mesmo tempo em que atualiza os bancos de dados da CPT, pois permite maior qualificação, além de garantir o registro a partir das equipes e de seus agentes, que são as fontes vivas que acompanham e registram toda violência praticada contra os bens naturais e a vida das pessoas que sofrem com o avanço voraz do capital. Sabemos que os defensores de plantão de toda insanidade praticada contra a vida dos amazônidas fazem de tudo para esconder toda esta violência e, somente com registros como este é possível dar visibilidade a tamanha violência sofrida pelos habitantes da Amazônia, ao mesmo tempo em que possibilita tirar também da invisibilidade todos os processos de articulação das lutas dos diversos grupos sociais que reagem e se organizam para o enfrentamento contra toda opressão, em busca de uma vida digna e do bem viver.

Agosto de 2017.

Darlene Braga | Gilson Rego | Josep Iborra (Zezinho)
Articulação das CPTs da Amazônia