Hélio Negro


Hélio Negro (pseudônimo de Antônio Candeias Duarte), por Alexandre Hecker

Antônio Candeias Duarte nasceu em Coimbra, Portugal, em 1881, e com 10 anos, acompanhando os pais chegou a São Paulo. Em 1917, já naturalizado brasileiro, foi um dos lideres da grande greve que paralisou a cidade e assustou as elites econômicas com a possibilidade de se verem obrigadas a ceder direitos aos trabalhadores. Na ocasião, compôs o Comitê de Defesa Proletária, juntamente com Edgard Leuenroth, e teve atuação destacada, sendo redator do jornal que sustentou o movimento, A Plebe.

Em março de 1919, no Rio de janeiro, participou da fundação de um Partido Comunista de feição anarquista, e veio a organizá-lo em junho, já em São Paulo, com o nome de Partido Comunista do Brasil. Nesse mesmo ano, como desdobramento destas ações, e de tentativas de reorganizar o seu contemporâneo pensamento político socialista, escreveu, mais uma vez ao lado de Leuenroth, um trabalho fundamental para o entendimento daquelas lides no Brasil, o livro O que é o maximismo ou bolchevismo. Em 1921, vamos encontrá-lo colaborando na Revista Clarté, juntamente com intelectuais como Evaristo de Moraes, Maurício de Lacerda e outros.

Durante os anos 1920 descreveu uma não incomum parábola ideológica transferindo-se, como tantos, para as fileiras do movimento comunista, que passou a apoiar por meio de seu trabalho de administrador de empresas gráficas. Logo após a Revolução de 1930, respirando o ar puro de liberdade que por pouco perduraria, produziu juntamente com Oswald de Andrade e Patrícia Gaivão, a Pagú, o inspirador O homem do povo, para o qual também colaborou. Concomitantemente a esta efêmera experiência influenciada por moções comunistas não ortodoxas, constituiu, como representante da política de divulgação do PCB em São Paulo, uma empresa editorial que chegou a publicar em terras paulistanas o principal periódico da corrente, A Classe Operária. Por isto foi preso e teve a sua gráfica em parte destruída.

Embora o prontuário de Candeias, elaborado pela polícia política paulista, passe a registrar quase nada a partir do ano de 1931, encontram-se ali documentos comprobatórios de suas duas prisões nesse ano, depois em 1935, quando da organização da Aliança Nacional Libertadora, e, posteriormente, por ocasião da cassação do PCB, em 1947. Nesses dois últimos momentos, o exame da documentação disponível sugere que não havia motivos para tais reclusões, a não ser a “consulta” a um pretenso modelo de militante perigoso para o establishment.

Candeias teve nove filhos que sustentou com suas atividades de comerciante de materiais para impressão – tais como: importação de papel, de tintas, de metais, de máquinas – ou como industrial, dono de tipografia. Um seu polêmico conterrâneo, Edgar Rodrigues, já passados muitos anos daquelas lutas revolucionárias, procurando talvez apontar
contradições no comportamento militante dele, observou que depois de uma época áurea o espírito revolucionário de Candeias arrefeceu, e isto lhe permitiu “ficar milionário” com a exploração de seus negócios.

Notas:

* Excerto biográfico retirado de: HECKER, Alexandre. “O português Antônio Candeias Duarte: desconhecido protagonista da história política brasileira”, in SARGES, Maria de Nazaré; SOUSA, Fernando de; MATOS, Maria Izilda; JUNIOR, Antonio Otaviano Vieira; CANCELA, Cristina Donza (orgs.) – Entre Mares: o Brasil dos Portugueses. Belém: Editora Paka-Tatu, 2010. p. 262-274