Avelino Fóscolo

Avelino Fóscolo, por Edgar Rodrigues¹

Brasileiro, farmacêutico, jornalista, escritor, teatrólogo e anarquista.

Nasceu em Sabará no ano de 1864 e faleceu em Belo Horizonte a 29 de agosto de 1944.

Pouco depois transferiu-se para Tabuleiro Grande, hoje Paraopeba, Estado de Minas Gerais. Ali galvanizou, entre os humildes, as suas ideias libertárias; ali argamassou substâncias que marcariam toda a sua personalidade, sua conduta, sua vida, tão modesta quanto exemplar; tão livre quanto atéia; tão altruísta quanto lutadora em prol de uma nova sociedade humana e justa para todos.

No curso dos seus 80 anos de existência, trilhou sempre o caminho anarquista deixando marcas de sua passagem ideológica nos discursos, nos jornais que fundou, dirigiu e colaborou, no teatro social de que foi fundador, nas peças e nos romances que escreveu.

Como jornalista, escritor e teatrólogo marcou sua presença entre os pioneiros do teatro e do romance social no Brasil, ao lado de Fábio Luz, Manuel Curvelo de Mendonça, Graça Aranha e Domingos Ribeiro Filho, antecipando-se algumas dezenas de anos a Juracy Camargo e Jorge Amado.

Pertenceu a Academia Mineira de Letras e deixou-nos as seguintes obras publicadas, de fundo libertário: O MESTIÇO, O CABOCLO, A CAPITAL, O JUBILEU, A MULHER (em colaboração), VULCÕES, a peça O SEMEADOR, e as operetas OS ESTRANGEIROS, OS BRASILEIROS, e deixou inédito: NO CIRCO, NA FEIRA, MORRO VELHO, o drama em três atos O DEMÔNIO MODERNO e a comédia CÁ E LÁ… ÁGUIAS HÁ.

Como jornalista fundou a primeira imprensa de Sete Lagoas, com o título A VIDA a 6 de janeiro de 1893, jornal que passou a chamar-se O INDUSTRIAL em 1896 e mais tarde NOVA ERA.

Em 1902, o jornal O CREPÚSCULO, pela pena do prof. Sabino Paula Freitas, anunciava:

“Teatro – A feliz ideia de fundar e levantar aqui uma casa de teatro, correspondida por todos, pois que tem revelado nisso a melhor vontade possível.
Graças ao esforço de Avelino Fóscolo, em prol da construção do teatro, tem-se conseguido, por seu intermédio, muitos donativos.”

Não obstante suas ocupações em defesa da saúde dos humildes, iniciou movimento de solidariedade financeira, angariou fundos, construiu um teatro, fundou uma valiosa biblioteca de obras sociais e com a ajuda de amadores locais – que incentivou – formou o Clube Dramático Literário.

Neste teatro levou à cena, entre outras peças, o drama revolucionário e libertário GASPAR, O SERRALHEIRO, de Batista Machado.

Colaborou na imprensa anarquista, destacando-se a A PLEBE e A LANTERNA, de São Paulo.

Como figura humana ainda é lembrado, já que na sua condição de farmacêutico foi sempre um grande médico para os trabalhadores, para os pobres que não podiam pagar consulta. Estava sempre disposto a receitar e a tratar os filhos dos humildes, podendo ou não pagar o seu trabalho. Foi e morreu um homem bom, um autêntico anarquista!

A Plebe, (São Paulo, 27.11.1920) comentou assim o seu romance “O Jubileu“:

“O nosso camarada Avelino Fóscolo acaba de publicar a 2ª edição do seu romance O Jubileu.
É desnecessário enaltecer os méritos literários e social deste livro: o autor é já bastante conhecido e admirado como romancista, e este seu trabalho é um grito de revolta e protesto contra uma das grandes feiras clericais de Minas – O Jubileu de Congonhas do Campo – que é uma pequena Lourdes onde a padralhada cínica e aventureiros de toda a espécie exploram a ignorância e a crendice do povo.
Como Zola desmascarou os embustes de Lourdes, Avelino Fóscolo, fiel discípulo do grande realista francês, nos mostra o que é o Jubileu de Congonhas do Campo. Da fotografia dos vários aspectos que ao seu olhar de observador revoltado ofereceu a impudica feira clerical, Avelino Fóscolo teceu o fino enredo de um romance, muito bem descrito e escrito. Os seus personagens são todos estudados e retratados com perfeição; as suas cenas, mesmo as mais simples, são impressionantes, pelo modo como o autor as descreve; as suas paisagens são suaves e floridas, como as paisagens de sua terra.”

Anos depois A Lanterna, jornal anticlerical e anarquista dirigido por Edgard Leuenroth anunciava:

“Enceta neste número a sua colaboração efetiva n’A Lanterna o conhecido e admirado escritor mineiro Avelino Fóscolo, da Academia Mineira de Letras. Os leitores d’A Lanterna já o conhecem de sobra pelo seu belo romance O Jubileu, aqui publicado em folhetins.”

Dez anos mais tarde da publicação desta nota, é ainda Edgard Leuenroth que recebe o seguinte bilhete:

“São Paulo, 31 de agosto de 1944.
Caro Edgard.
O Diário de São Paulo de hoje, em telegrama de Belo Horizonte, da o falecimento do nosso velho amigo Avelino Fóscolo. Publicou, porém, o seu nome truncado. Sei que é o nosso antigo companheiro, porque já sabia que ele se encontrava bastante enfermo.
Veja se pode dar, na Noite e outros jornais a notícia da morte de Avelino Fóscolo, pelo menos como uma retificação à notícia errada que publicou o Diário.
Do amigo,
R. Reis.”

Nota:

1 RODRIGUES, Edgar. Os Companheiros 1. Rio de Janeiro: VJR, 1994. p. 61-63.