História do Anarquismo no Brasil vol. 3

 

 

 

 

 

 

INFORMAÇÕES:

Título: História do Anarquismo no Brasil vol. 3
Autor: Carlos Augusto Addor; Luiz Alberto Sanz; Alexandre Samis (orgs.)
Editora: Entremares
Idioma: Português
Encadernação: Brochura
Dimensão: 16 x 23 cm
Edição:
Ano de Lançamento: Janeiro de 2021
Número de páginas: 288
Preço: R$ 45,00

SUMÁRIO:

APRESENTAÇÃO:

Apresentamos ao leitor o volume 3 da História do Anarquismo no Brasil. O primeiro volume, organizado por Daniel Aarão Reis e Rafael Deminicis, foi publicado em 2006, em coedição da EDUFF e da Editora Mauad X. Em 2009 foi publicado, pela Editora Achiamé, o segundo volume, organizado por Carlos Augusto Addor e Rafael Deminicis.

Comentaremos rapidamente os capítulos que compõem este terceiro volume:

Carlos Addor analisa em seu artigo os reflexos da Primeira Guerra Mundial, e também da Revolução Russa, na imprensa anarquista no Brasil. O autor mostra como os periódicos se mantêm, ao longo do quadriênio 1914–1918, coerentes com os mais importantes princípios libertários, dentre os quais o pacifismo e o internacionalismo. “Guerra à guerra!”.

Giovanni Stiffoni analisa a complexidade da mensagem política do jornal anarquista La Battaglia, publicado no Brasil no início do século XX. Embora priorize a necessidade e a urgência da propaganda revolucionária, o periódico, constatando a precariedade das condições de vida dos trabalhadores, apoia também greves operárias construídas a partir de reivindicações e demandas mais específicas.

Eduardo Lamela trabalha com as interpretações feitas pelos anarquistas no Brasil, em especial no Rio de Janeiro, sobre as revoluções russas. O autor enfatiza o processo de circulação, apropriação e ressignificação das ideias libertárias, propondo um “caminho transversal de análise”.

Aden Lamounier revisita a insurreição anarquista de novembro de 1918, enfatizando a importância das propostas e também das expectativas geradas pela Revolução Russa de 1917, na formação do imaginário político dos insurretos no Rio de Janeiro, então capital federal.

Alexandre Samis e Katia Motta retomam o processo de formação do ainda pouco conhecido Partido Comunista Anarquista de 1919, agremiação sem caráter eleitoral e de vida efêmera, estratégia política inspirada principalmente em Errico Malatesta. Os autores destacam o papel da Liga Feminista Comunista nesse processo.

Angela Roberti e Ingrid Ladeira analisam o movimento anarquista no Rio de Janeiro na conjuntura de 1919 – 1921, comentando mais especificamente a intensa atividade de Maria de Lourdes Nogueira, militante feminista e anarquista, em especial na mesma Liga Feminina Comunista e no Grupo Feminino de Estudos Sociais.

Alex Brito analisa em seu artigo as considerações e reflexões do militante libertário Fábio Luz sobre a literatura, a arte e a estética anarquista, que deveriam estar sempre a serviço da Revolução Social.

Henrique Amaral analisa em seu artigo a pedagogia anarquista, priorizando o papel específico e relevante do ensino da história na educação libertária. Depois de retomar considerações de Bakunin sobre a “Instrução integral”, as experiências de Paul Robin no Orfanato de Cempuis, na França, e de Clemência Jacquinet, ao lado de Francisco Ferrer na Escola Moderna de Barcelona, o autor se volta para as Escolas Modernas 1 e 2, na cidade de São Paulo, na segunda década do século XX, experiências pioneiras da educação anarquista no Brasil.

Mariana Nepomuceno também analisa em seu artigo a pedagogia libertária e as suas relações com o sindicalismo revolucionário no Brasil da Primeira República. A partir de considerações de Bakunin, de Proudhon e também de Gramsci, a autora apresenta os princípios fundamentais da pedagogia libertária que, criticando a separação entre trabalho intelectual e trabalho manual, característica da pedagogia autoritária, propõe conduzir simultaneamente “o exercício do músculo e a ginástica do cérebro”. Mariana comenta também a atuação das Escolas Modernas em São Paulo no início do século XX.

Rodrigo Rosa da Silva analisa a trajetória de militância do padeiro anarquista Natalino Rodrigues. Ao longo dos anos trinta e quarenta, Rodrigues foi vítima de inúmeras prisões, arbitrariedades, injustiças, violências, torturas, persistindo sempre na luta. Lendo o artigo, lembrei das Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos.

João Henrique de Oliveira analisa em seu artigo as estratégias e características da propaganda anarquista no Brasil, enfatizando a dimensão contra-hegemônica da comunicação libertária. O autor trabalha com um longo recorte cronológico, abordando desde a publicação dos primeiros periódicos anarquistas impressos na última década dos oitocentos, até as relações dos movimentos libertários com o ciberativismo, na virada do século XX para o século XXI.

A maioria dos artigos trabalha com o Anarquismo na Primeira República, período no qual foi mais forte seu enraizamento social e sindical. Dois capítulos, no entanto, se afastam desse recorte cronológico. Rodrigo Rosa comentando as agruras de um padeiro anarquista na “Era Vargas” e João Henrique de Oliveira analisando a comunicação anarquista contra-hegemônica, dos fins do século XIX ao ciberativismo do início do século XXI.

Em quatro dos onze capítulos do livro os autores incorporam a suas reflexões e análises uma perspectiva da micro-história, esboçando perfis biográficos. E em dois desses quatro artigos, os personagens estudados – Maria de Lourdes Nogueira e Natalino Rodrigues – são praticamente anônimos, desconhecidos até mesmo dos estudiosos do movimento operário e do anarquismo no Brasil.

Trabalho de garimpo, semelhante ao realizado por Edgar Rodrigues, quando publicou os cinco volumes da série Companheiros.

Temos orgulho, nós do Grupo de Estudos do Anarquismo (GEA /UFF), de ter participado do processo da produção deste livro coletivo, que reflete, nos seus 11 capítulos, o esforço, a dedicação e o trabalho de treze pesquisadores, de gerações diferentes e com experiências diversas. Estudantes de pós-graduação e professores universitários e do ensino médio, alguns com uma longa carreira acadêmica e uma trajetória intelectual consolidada, acumulando anos, ou mesmo décadas, de atividades de pesquisa, docência e extensão.

Organizamos e produzimos o livro a partir dos valores básicos do anarquismo, do socialismo libertário. Trabalho coletivo e integrado, liberdade no debate de ideias e propostas, decisões tomadas em conjunto, democraticamente e sem quaisquer hierarquias, solidariedade e apoio mútuo. Integração também das dimensões intelectual e manual / operacional do trabalho.

Nosso orgulho se torna ainda maior em função do momento que estamos vivendo, das circunstâncias históricas nas quais este livro vem à luz. Uma conjuntura na qual a educação, a ciência, a arte e a cultura vêm sofrendo ataques injustos e absurdos por parte de agentes do aparelho de Estado brasileiro, que a cada dia evidenciam seu despreparo gritante na gestão da coisa pública.

Temos orgulho também da universidade pública e das escolas públicas no Brasil, que resistem, apesar de desvalorizadas e desprezadas pelos poderes e autoridades governamentais neste momento em que publicamos nosso livro.

Temos ainda amor pela universidade pública e compreendemos seu papel fundamental no processo de formação de seres humanos qualificados, incluída nessa qualificação uma ampla visão humanista, que só pode ser oferecida pelas Ciências Humanas. Destacamos também o recente processo, vital, de ampliação da inclusão social, realizado pela universidade pública no Brasil.

O volume 3 da História do Anarquismo no Brasil é mais um exemplo, dentre inúmeros, milhares, incontáveis exemplos, da capacidade da universidade pública brasileira de cumprir seu papel primordial: produzir e divulgar conhecimento novo, original, relevante e cientificamente fundamentado. Conhecimento produzido a partir da maturidade intelectual, do espírito crítico, do empenho e da também necessária reflexão crítica dos seus autores.

Malgrado os cortes de verbas e recursos e o menosprezo com o qual vem sendo tratada pelo atual governo, a universidade pública brasileira continua cumprindo seu papel fundamental, indispensável mesmo, para a sociedade brasileira.

Sobre a atualidade do Anarquismo, nesta segunda década do século XXI, vou concluir esta Apresentação citando Noam Chomsky: “O problema de ‘libertar o homem da desgraça da exploração econômica e da escravização social e política’ permanece o problema do nosso tempo. Enquanto isso durar, as doutrinas e as práticas revolucionárias do socialismo libertário servirão como inspiração e guia”.

Saudações libertárias e boa leitura!

Carlos Augusto Addor
Professor do Programa de Pós-Graduação em História
da Universidade Federal Fluminense
Junho de 2019